«Os mortos têm pressa»
Burger, Lénore
1. O poema, como operação (aparelho, máquina) produz o seu outro, o autor, seja ele um seu duplo ou um fantasma. A Literatura apresenta-se assim como uma máquina de produzir fantasmas. Daí o poder dizer -se que, no que tem de mais essencial, a literatura (o seu corpo sideral, espectral) é sempre fantástica.
2. Do texto, quem quer que por ele passe, sai sempre estranho, alterado. Inquietante estranheza do semelhante. Partícula un do heimliche (Freud). Como corpo aural ou espectral, o texto (o poema) produz sempre o seu fantasma. Nervura de um palimpsesto memorável, aí inscrita para depois ser (re)evocada pela leitura.
Qualquer encontro com o texto é assim, também, com o seu fantasma.
3. O próprio autor surge como fantasma do seu texto, sua projecção espectral ou fantasmática. Por um lado, o duplo resultante da sua construção — diz-se o fantasma do texto como o da casa —, por outro, a reevocação imaginária na leitura de um outro — é -se sempre o fantasma de um outro ou o outro do fantasma (hipótese do filme Os Outros, de Alejandro Amenàbar). O leitor surge no texto como a antecipação do encontro, no futuro, com o nosso fantasma.
Teoria do Fantasma, Fernando Guerreiro
Este livro é composto pelos conjuntos Literatura Fantástica e Teoria do Fantasma, dele fazendo também parte o encartado Teatro Dubrowka, que inclui os textos “Teatro Dubrowka” e “O que é feito da vanguarda?”.
Teoria do Fantasma Fernando Guerreiro PVP — 12€ COMPRAR